10.09.2010

[música] A Penumbra Da Witch House


Há um bom tempo atrás (bota tempo nisso) escrevi uma matéria por aqui sobre música eletrônica, e suas vertentes atuais. Claro, ficou faltando genêros a mais serem dissecados...mas quando achei que nada novo podia aparecer, eis que um novo sub-genêro aparece graças a força de blogs atrás de novidades. Esse estilo atual tem nomes, e bem sinistros por sinal - Witch House ou Drag Music.

Uma ótima maneira de apresenta-lo é cometando sobre o mixtape que alguns artistas desta nova vertente fizeram em homenagem a atriz/cantora (nem lembrava que ela lançou discos) e estrela mór de tablóides sensacionalistas - a encarceirada Lindsay Lohan. Longe de ser um protesto do tipo "FREE LINDSAY" (de acordo com o press release do projeto), a intenção maior é de se fazer um experimento com a música pop (no caso, as músicas que Lohan lançou) com objetivos sinceros. De nome LET ME SHINE FOR YOU, a mixtape foi montada por Robin Carolan, criador do blog 20 Jazz Funk Greats e agora fundador do selo Tri Angle, alicerce fundamental dentro do Witch House.

Com um ritmo normalmente arrastado, sintetizadores fazendo linhas soturnas e sons atmosféricos, o Witch House vem chamando a atenção de blogs especializados sobre novidades underground, que buscam artistas novos que gravam músicas fora do eixo de estilos atuais, e de preferência caseiramente. Nomes como Salem, Balam Acab, White Ring, Creep e o impronunsiável oOoOO (sim, é isso mesmo que você leu), pegam referências atuais e às vezes bem antigas de hip hop, deixam o ritmo bem arrastado, e colocam linhas de teclado que não estariam distantes de algum som gótico obscuro dos anos 80.

Um dos argumentos interessantes sobre a influência rítmica do hip hop e R&B na Witch House vem de Lauren Dillard, do grupo Creep: "Hip e hop e R&B, na essência, são um tipo de música comercial. Mas se analizarmos bem a fundo nas entranhas disso, sonicamente eles não deixam de ser estranhos. E há tanto que se pode fazer com isso. Fico surpreso que tenha demorado tanto tempo para que os estilos começassem a ser experimentados por pessoas que não fazem parte desse mundo deles".




Uma das bandas desse estilo que conseguiu uma projeção grande de público, especialmente por entrevistas descrevendo a prostituição e abuso de drogas por parte de seus integrantes, é o grupo Salem. Formado por John Holland (teclados), Heather Marlatt (vocais e teclados) e Jack Donoghue (rimas), o Salem é um dos percusores do Witch House/Drag Music. Infelizmente o Salem vem causando um bode geral ao vivo, especialmente com seu show no festival SXSW no Texas, que causou algumas vaias e reclamações até eles irem embora do palco. Talvez por esses artistas as vezes nem saberem direito como representarem suas experimentações sonoras de quarto, o Salem vem fazendo alguns shows abaixo do esperado. Talvez para consertar a cagada feita ao vivo, seu recém lançado primeiro disco, intitulado 'King Night', parece bem promissor dentro do estilo que eles ajudaram a criar. O clima soturno de suas músicas vem acompanhado de batidas old school de hip hop, e também de um grave descomunal no vermelho, perfeito pra se ouvir com um sub woofer...mas ao vivo eles continuam tocando por ai, sem se importar com a opinião dos outros.




Um dos talentos mais destacáveis desta leva é Balam Acab. O músico Alec Koone, de 19 anos, acaba de lançar seu primeiro trabalho como Balam Acab, o See Birds EP. Com uma produção apurada, Koone criou um disco denso, arrastado e psicodélico, a pontos em que a música consegue desorientar o ouvinte. Este disco marca o primeiro lançamento oficial em um formato físico (em vinil) pela gravadora Tri Angle, juntamente com o EP de estréia do oOoOO (um nome deveras frustante pra se pesquisar no google), que vem chamando a atenção na internet. Inclusive a banda The Big Pink chamou o oOoOO (verdadeiro nome, Christopher Greenspan) pra remixar sua música 'Tonight', proveniente de seu disco de estréia A Brief History Of Love.




Há de se dizer que as músicas dos artistas citados acima são inclassificáveis, mas se você não se importa de ter alguns pesadelos de noite, faça um favor a si mesmo e dê uma conferida no som desse pessoal novo. Se bem que eu acho que uma brasileira, nos primórdios do Youtube, foi a verdadeira criadora do Witch House...

Um comentário:

Marcelo Fiedler disse...

hahahahahah, realmente, bertulina é progenitora nacional Witch House Vernacular