Por Ana Claudia Lopes
A NATIONAL PORTRAIT Gallery de Londres, tradicional museus de pinturas da monarquia inglesa, se rendeu à moda. Desde 15 de Fevereiro, trabalhos de cinco fotógrafos que se tornaram referência na indústria fashion nos últimos 15 anos ocupam as paredes da conceituada galeria. São mais de cem imagens de Mert Alas & Marcus Pigott, Corinne Day, Stevem Klein, Paolo Roservi e Mario Sorrenti - a maioria feita inicialmente com intuito comercial - ora para campanhas publicitárias de grandes grifes, ora para editoriais de moda em revistas como Vogue, Harper´s Bazaar e Dazed & Confused.
Um dos focos principais da exposição Face of Fashion, em cartaz até 28 de maio, é mostrar a diversidade da fotografia de moda. Os trabalhos retratam as diferenças de estilo e estética de cada artista. Uns irradiam glamour, outros o subvertem. As figuras suaves e quase etéras do italiano Roversi, por exemplo, contrastam com o estranhamento provocado pelos trabalhos do americano Steven Klein, um dos mais subversivos fotógrafos da atualidade, que tem predileção por clicar corpos contorcidos ou machucados, o preferido da superstar Madonna. O hall de estrelas retratadas é imenso. Além de Madonna, Angelina Jolie, David Beckham, catherine Deneuve, Björk e mais uma dezena de celebs do primeiro time. Entretanto, quem reina soberana, claro, é a top inglesa Kate Moss, com 12 retratos. Outro objetivo da mostra é indicar a intimidade que muitas vezes se estabelece entre fotógrafo e modelo. E nenhuma top desenvolveu vínculos tão fortes com os fotógrafos de moda quanto Kate.
Sua vida profissional e pessoal se entremeia principalmente com as de Corinne Day e de Mario Sorrenti. Kate foi descoberta por Corinne quando tinha apenas 14 anos. A fotógrafa inglesa é precursora da estética heroin chic, que dispensa produção e mostra as modelos em ambientes familiares, sem maquiagem nem cabelo arrumado. Foi esse estilo que catapultou Kate e a moda britânica à ribalta fashion no início dos anos 90. Em 94, entretanto, Corinne deixou as páginas glamorosas das revistas para se dedicar a um projeto mais documental e intimista, que deu origem a Diary, livro em que retrata a vida caótica dos amigos viciados em droga ( semelhançascom a trajetória de Kate aqui não são mera coincidência).
A história da top inglesa também se entrelaça com a de Mario Sorrenti. Eles eram namorados no início dos anos 90, quando a carreira do italiano decolou. O primeiro trabalho importante foi a campanha do perfume Obsession, da Calvin Klein, estrelada por Kate, com fotos P&B. Sorrenti tinha apenas 22 anos e nenhum treinamento profissional. De lá pra cá, fotografou para Missoni, Prada, Jil Sander, Ungaro e Benetton. Também participou de várias exposições e tem obras no acervo de museus importantes como o Victoria and Albert e a Tate Modern, ambos em Londres.
A dupla turco-inglesa Mert & Marcus deslanchou mais tarde, em 1997, mas nem por isso fica atrás em questão de fama e importância. A estética é oposta à realidade de Corinne Day - seus trabalhos são hiperproduzidos, quase plásticos, com maquiagem e cabelos perfeitos. As cores vibrantes lembram o trabalho do francês Guy Bourdin (1928-1991), famoso por suas imagens dramáticas. As mulheres da dupla são pinups pós-modernas, fortes e sofisticadas. Mert Alas e Marcus Piggott se conheceram na Inglaterra em 1994. Marcus era assistente de fotógrafo, e Mert trabalhava como stylist. Resolveram formar uma dupla, revezando a câmera nos ensaios. Ainda desconhecidos, levaram o porfolio até a revista Dazed and Confused, que publicou imediatamente um ensaio da dupla. Hoje, eles são responsáveis pelas comentadíssimas campanhas da Louis Vuitton, com Gisele, Uma Thurman, Jennifer Lopez, Scarlett Johansson, Naomi - todas supermulheres. Sejam elas realistas, suaves ou com glamour plastificado, as imagens são um deleite para quem gosta de moda. Vê-las agrupadas num museu, em tamanhos fenomenais, dá a dimensão artística que lhes é merecida.
National Portrait Gallery: St. Martin´s Place, Londres, www.npg.org.uk"
Vogue Brasil n. 343 Março
por jaQ.
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